quarta-feira, 13 de maio de 2015

Procissão de Velas na véspera de 13 de Maio

Como em anos anteriores, também na véspera do 13 de Maio deste ano teve lugar uma concorrida Procissão de Velas da Matriz para a Igreja da Lapa.
Vários aspectos nos impressionaram nesta manifestação de devoção mariana; salientamos dois, a preparação dos tapetes e a procissão propriamente dita.
Na preparação dos tapetes empenharam-se três ou quatro equipas: uma que os trouxe da igreja até ao entroncamento da rua que vem do estádio, outra que se ocupou da parte entre a linha do metro e o início dos jardins da Casa da Memória e a terceira que levou o tapete até ao Largo de São Sebastião.
Escusado é dizer que estes tapetes supõem um aturado trabalho antecedente de quase quinze dias.
O resultado é óptimo. Nas extremidades foram preparadas artísticas composições em louvor da Mãe de Deus, como se pode verificar abaixo.
À procissão acorreu cerca dum milhar de pessoas, ao que nos dizem mais que nos anos anteriores, num manifestação muito genuinamente religiosa, sem pretensões turísticas nem foguetes.

De salientar também a colaboração das autoridades locais, promovendo uma melhor iluminação, o policiamento e no final a limpeza da rua.


Artística composição floral com motivos marianos junto ao escadório da Lapa.


Aspecto da confecção dos tapetes.


Reinício do tapete a seguir à linha do metro, para poente.


Início dos tapetes no largo de São Sebastião. Composição também com temas marianos.

quinta-feira, 19 de março de 2015



Santos representados na Igreja da Lapa


Na Igreja da Lapa há imagens de muitos santos. De São Bartolomeu, há cinco imagens, de Nossa Senhora da Lapa três; de São Lourenço pelo menos três, etc. Isso tem a ver com devoções populares que nela se sucederam. Vamos colocar aqui uma breve nota sobre cada um.
Para os mais antigos, é conveniente ver o que diz a Flos Sanctorum. Apesar do título latino, este livro, a Flor dos Santos, está em português e foi usado durante séculos como fonte de inspiração para os pregadores.

Bartolomeu
O nome Bartolomeu deve significar filho de Ptolomeu. Crê-se que com ele se refere o apóstolo Natanael, a quem Jesus elogiou ao dirigir-se-lhe pela primeira vez. Como os outros apóstolos, foi martirizado.
A imagem mais antiga deste apóstolo e mártir na Igreja da Lapa deve ser a que se guarda no cofre e que teve um relicário ao peito[1]; a da sacristia, ao lado norte do retábulo, sugere-se que ele foi crucificado; a do retábulo-mor da igreja assemelha-se à do cofre, sem referência ao tipo de martírio; a do retábulo lateral a ele dedicado tem a originalidade de o apresentar como vencedor do demónio (ao modo de Nossa Senhora da Conceição ou do arcanjo São Miguel), o que também se verifica na que está sobre a fachada da igreja. Mas a vitória de São Bartolomeu sobre o demónio deve ser a mesma de todos os santos (os inimigos da alma, recorde-se, são mundo, demónio e carne). O resto deve ser apenas lenda.

Lourenço
Diácono romano de origem hispânica e do século III, queimado vivo sobre um braseiro, o seu nome consta no cânon romano da missa e no documento seiscentista das indulgências concedidas à Capela de São Bartolomeu.

Nossa Senhora da Lapa
Sobre esta invocação de Nossa Senhora, não temos nada a acrescentar ao que dissemos.

Sagrado Coração de Jesus
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi intensamente divulgada principalmente em finais do século XIX, princípios do XX. Em 1899 o Papa Leão XIII fez a Consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus (a pedido duma religiosa alemã então residente no Porto, a Beata Maria do Divino Coração). A basílica poveira desta invocação começou a ser construída em finais do século XIX. Foi sem dúvida esta divulgação que levou a que se colocasse na igreja a respectiva imagem.

Nossa Senhora das Neves
Consta que houve na Lapa a imagem de Nossa Senhora das Neves. Esta devoção teve origem em Roma, na Basílica de Santa Maria Maior, e é assim muito antiga. Há capelas dedicadas a esta invocação em Bagunte e na Azurara. Não se conserva hoje na Igreja da Lapa a respectiva imagem.

Nossa Senhora de Fátima
A invocação de Nossa Senhora de Fátima teve origem nas aparições aos Pastorinhos na Cova de Iria, em 1917. Esta devoção tende a sobrepor-se a outras invocações marianas antigas, o que se está a passar também na Lapa.

António de Lisboa
Importante santo português franciscano cuja acção teve grande impacto em todo o mundo cristão.
Nascido em Lisboa num dos anos finais do século XII, Santo António faleceu em Pádua, em 13 de Junho de 1231. Primeiramente foi frade agostinho no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde aprofundou os seus estudos religiosos através da leitura da Bíblia e da literatura patrística, científica e clássica. Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois na Itália e na França. No ano de 1221 fez parte do Capítulo Geral da Ordem de Assis, a convite do próprio São Francisco, o fundador, que o convidou também a pregar contra os albigenses em França. Foi transferido depois para Bolonha e de seguida para Pádua, onde morreu aos 36 (ou 40) anos. Foi o primeiro doutor da Igreja da ordem franciscana.

Águeda
Natural de Sicília, Águeda ou Ágata é uma das muitas santas e santos mártires das perseguições romanas anteriores à liberdade concedida à Igreja por Constantino. Era mencionada no cânon romano da missa.

André
O apóstolo Santo André era irmão de São Pedro, natural de Betsaida, junto ao mar da Galileia, não longe de Cafarnaum, a cidade próxima da estrada de Damasco donde a pregação de Jesus irradiou para a Galileia. Terá sido discípulo de São João Baptista. Nos Evangelhos é repetidamente referido, o que o mostra como um dos mais destacados do grupo dos Doze. Foi martirizado.

Apolónia
Natural de Alexandrina, no Egipto, Santa Apolónia foi vítima de terrível perseguição que suportou heroicamente. Era invocada contra as dores de dentes.

Ifigénia
Santa Ifigénia é uma santa etíope dos primeiros tempos do cristianismo, que a lenda relaciona com São Mateus. Não conhecemos a sua imagem na Igreja da Lapa.

Inácio
Presumimos que o Santo Inácio que se venerou na Igreja da Lapa fosse Santo Inácio de Antioquia, um importante santo dos começos do cristianismo, que deixou escritos.

Luzia
Santa Luzia, natural de Siracusa, Sicília, é, como as Santas Águeda e Apolónia, também uma virgem e mártir cristã dos anos finais da perseguição romana contra a Igreja. É padroeira dos oftalmologistas e daqueles que têm problemas de visão.

Marcos
Discípulo de São Pedro e de São Paulo, autor do segundo evangelho. Na realidade o Evangelho de São Marcos é anterior ao de São Mateus, já que foi São Marcos o autor da primeira narrativa evangélica.

Matias
De acordo com os Actos dos Apóstolos, São Matias foi escolhido para ocupar o lugar do traidor e suicida Judas.
Na base da imagem que se encontra na Igreja da Lapa um letreiro latino tem estas duas palavras Mathias vocor, que significam “sou chamado Matias”.

Nicolau
O bispo São Nicolau terá morrido em 350 na Turquia; ficou conhecido pela sua caridade e afinidade com as crianças. Devido à sua imensa generosidade e aos milagres que lhe foram atribuídos, foi canonizado e tornou-se um símbolo ligado directamente ao nascimento do Menino Jesus. Daí ocorrer associado ao presépio e à Sagrada Família. São Nicolau é um dos santos mais conhecidos da cristandade.

Ovídio
Santo Ovídio foi um dos primeiros bispos de Braga; no lugar de Santo Ovídio dos arredores do Porto foi construída a Igreja da Lapa daquela cidade. Popularmente chamavam-lhe Santo Ouvido e por isso invocavam-no para males de audição. Santo bastante popular, havia em Santa Clara uma pintura que o representava.

Sagrada Família
A Sagrada Família é a família de Jesus; compunha-se do próprio Cristo menino e jovem, sua Mãe Maria e São José. Tudo nesta família única é misterioso: um menino e jovem que é Deus Connosco, sua Mãe, cheia de graça, santíssima, e um homem mais comum, justo, São José, socialmente o esteio do pequeno grupo.
Na Igreja da Lapa, a devoção à Sagrada Família é consequência da associação recente da Senhora da Lapa à Lapa de Belém.

Terezinha
Santa Terezinha (1873-1897) era francesa, fez-se carmelita com 16 anos e morreu aos 24. Deixou um livro, História de uma Alma, que lhe deu a celebridade. Foi declarada doutora da Igreja, um título só atribuído a mais três santas. Canonizada em 1925, foi desde logo muito popular em toda a cristandade.



[1] O relicário era importante sobretudo em tempos medievais. Conhecem-se referências antigas a relíquias nos mosteiros de  Rates e São Simão da Junqueira.

Autores que escreveram sobre a Lapa


A Senhora da Lapa em Vila do Conde

A devoção à Senhora da Lapa em Vila do Conde começou pelos anos de 1720/1730 na Capela de São Bartolomeu, onde está hoje a Igreja da Lapa. Desconhece-se quem a promoveu, mas conserva-se na sacristia um velho retábulo joanino de altar-mor que deve vir desse tempo.
Coluna joanina do retábulo do altar-mor que se guarda na sacristia da Igreja da Lapa de Vila do Conde e que deve remontar ao tempo em que na antiga capela se acrescentou a devoção à Senhora da Lapa à tradicional de São Bartolomeu.


Breve antologia poética mariana

Uma página dedicada a um templo mariano dificilmente se aceita sem alguns textos que exaltem a sublime figura da Mãe de Deus. Colocamos por isso aqui uma breve antologia de poesia a Ela dedicada.


MAGNIFICAT!

Magnificat é a palavra com que começa em latim o canto de louvor e de gratidão de Nossa Senhora aquando da sua visita a Santa Isabel, que a declarou “bendita entre as mulheres”, isto é, a mais notável e a mais santa entre as mulheres. Vem no Evangelho de São Lucas, o mais mariano dos quatro evangelistas.
A versão que se segue foi versificada, rimada e ligeiramente acrescentada por Augusto Gil (1873-1929).

A minha alma engrandece,
Glorifica o Senhor!
E todo o meu espírito estremece
E crepita e exulta e resplandece
Em Deus, meu Salvador!...

Beijo de orvalho na folhinha de erva
Baixou Deus da vertigem do infinito
Por sobre Mim, sua humilhada serva,
A eterna luz do seu olhar bendito...

E fiquei para sempre iluminada
Nesse piedoso e límpido clarão!
E hão-de chamar-Me bem-aventurada
Sempre, de geração em geração...

O seu nome é sagrado:
E o seu poder que nunca terá fim
(Por ter em mim poisado)
Não vistas maravilhas fez em mim!

E aos que o temem e a quem dele implora
Misericórdia e protecção clemente,
Deus encaminha-os — pela vida fora
E sempre, eternamente...

Manifestou a força do seu braço
E aos vãos, aos de orgulhoso pensamento,
Desfê-los — como a poeira, pelo espaço,
No turbilhão do vento... 

Derruiu tronos e reis — pô-los de rastros...
 — E aos humildes ergueu-os para os astros!
Deixou os ricos sem riqueza e nome
— E encheu de bens os que sentiam fome!
           
Com desvelado e carinhoso amor,
Protegeu Israel, seu servidor,
                                                
Marcou-lhe os firmes passos com sinais
De Bênçãos e clemência,
Conforme prometera a nossos pais,
A Abraão e a toda a sua descendência...

E eis que será perpetuamente assim
Nos séculos dos séculos sem fim!...


AVE MARIA

A Ave-Maria é constituída por duas partes: na primeira louva-se a Cheia de Graça, na segunda pede-se a sua intercessão.
A primeira parte é constituída por frases retiradas do Evangelho de São Lucas. Sem ele, não teríamos a Ave-Maria.

Ave Maria, cheia de graça,
O Senhor é convosco!
Bendita sois Vós entre as mulheres,
E bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus!

Santa Maria, Mãe de Deus,
Rogai por nós, pecadores,
Agora e na hora da nossa morte.
Amém.


SALVE RAINHA

A Salve Rainha é a mais famosa oração a Nossa Senhora depois do Ave-Maria.
Parece ter sido sugerida pela própria Mãe de Deus à alma que a recitou pela primeira vez.

Salve Rainha,
Mãe misericordiosa,
Vida, doçura e esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva,
A vós suspiramos, gemendo e chorando
Neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa,
Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei
E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus,
O bendito fruto de vosso ventre,
Ó clemente, ó piedosa,
Ó doce sempre Virgem Maria!
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo!
Amém.


À VIRGEM SANTÍSSIMA
Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia

Antero de Quental (Ponta Delgada, 18 de Abril de 1842 - 11 de Setembro de 1891) é autor de alguns dos melhores sonetos de temática religiosa da nossa literatura e também dos mais conhecidos.
À Virgem Santíssima foi escrito em Vila do Conde e é por isso que aqui se coloca. A Praça Velha, onde viveu o poeta, fica quase em linha recta para a Senhora da Lapa.

Num sonho todo feito de incerteza,
De nocturna e indizível ansiedade,
É que eu vi teu olhar de piedade
E (mais que piedade) de tristeza...

Não era o vulgar brilho da beleza
Nem o ardor banal da mocidade...
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza...

Um místico sofrer... uma ventura
Feita só do perdão, só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira...

Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa...
E deixa-me sonhar a vida inteira!


TU ÉS O SOL NUM NOVO AMANHECER!

Hoje continua-se a fazer boa poesia religiosa. Este poema e a sua música surgem aqui atribuídos a José Alberto e António Ferreira. A primeira quadra é refrão.

Tu és o Sol num novo amanhecer,
Tu és farol, a vida a renascer!
Maria, Maria! És poema de amor,
És minha mãe e mãe do meu Senhor!

Hoje quero acordar
E ter-Te junto a mim.
Quero hoje cantar
Poemas de amor sem fim!

Com a luz do teu olhar,
Vou semear a esp'rança.
Pelo tempo vou voar
Sentir que sou criança!

Teu carinho e ternura
Abraçam todo o mundo;
Teu sorriso de candura
Certeza de amor profundo!

Teu rosto puro e lindo
É luz de um novo dia;
É espaço infinito

De amor, paz e alegria!