quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

I – A CAPELA DE SÃO BARTOLOMEU

Vila do Conde teve, e tem, muitas capelas. Uma voltada para o rio, outra para o mar, capelas junto a antigas estradas, capelas à face de antigas e movimentadas ruas, capelas em colinas.


A origem

Em 26 de Maio de 1466, a câmara mandou limpar o caminho para Barreiros:
Item mandaram que sexta-feira, depois do Corpo de Deus, sejam todos juntos os moradores desta vila desde onde mora Lopo Borges para Cima de Vila e também os do termo para se correger o caminho de Barreiros.
Sabendo-se onde ficava Barreiros (junto a Formariz e próximo, para norte, da actual Igreja da Lapa), fica claro que se trata do mesmo caminho que um século mais tarde se identificará como de São Bartolomeu ( “caminho que vai para São Bartolomeu”). Isto é, um século mais tarde já havia a Capela de São Bartolomeu e em 1466 ainda não existia.
Ela deve ter sido construída cerca de 1550, depois da de São Sebastião, que data de 1548.
Era tempo da Contra-Reforma e era tempo em que devia estar a ser reconstruída a parte residencial do Mosteiro de Santa Clara.
A Capela de São Bartolomeu teve a ver com a entrada no termo da Vila para quem vinha de Barcelos, Braga e Guimarães e certamente alguma coisa com a Forca de Barreiros e com o Campo da Cruz que por ali se identificaram.

Barreiros da Forca e Forca de Barreiros

Em 1258, os homens de Formariz, quando se queixavam do esbulho de terras de que culpavam Vila do Conde, a certa altura, indicaram que o limite de freguesia passava por Barreiros da Forca. Esta referência à forca podia remeter para alguma coisa de muito antigo e por isso não passar de um topónimo sem grande interesse. Mas não era assim.
Cerca de 250 anos depois, em 8 de Novembro de 1502, por altura em que as obras da Matriz estavam em andamento, o “desembargador dos feitos reais” ordenou a construção duma nova forca cujos custos seriam suportados por uma finta sobre os moradores da vila. Ela ficaria “em Barreiros, onde a outra está, e que se faça de pedra, com suas ameias, o melhor que se puder fazer”, diz uma deliberação do dia 14. A obra foi entregue ao mestre pedreiro biscainho Pedro Baião por 3000 reais, mais 100 para cal.
Em 1502, ainda não existiria a capela de São Bartolomeu, mas, depois que se construiu, muitas vezes terão passado em frente dela os cortejos dos sentenciados.
O enforcamento era coisa horrível e o espectáculo deprimente continuava ainda por alguns dias. Porque o fariam ali no limite com Formariz e na principal entrada da Vila por terra?


Os primeiros documentos

No arquivo municipal, conservam-se vários documentos do século XVI que fazem menção de São Bartolomeu, entendendo-se que falam da Capela de São Bartolomeu.
Um dos mais antigos é uma acta de vereação que manda que “não levem nem lavem os bacios no ribeiro de Gamelinhas [1] que está na entrada da vila, vindo de São Bartolomeu”. Estabeleceu-se a pena de cinquenta réis por cada vez para os prevaricadores. O documento tem ao fundo a data de 1560.
Ao cimo, numa espécie de título, diz: “Que não vão lavar os bacios ao ribeiro das Gamelinhas”.
Alguns anos antes, em 1556, já se referia “o caminho que vai para São Bartolomeu, que é na saída desta vila”.
Num outro documento, de 1580, Francisco Gonçalves do Cabo faz entrega de significativa quantia aos vereadores, “em São Bartolomeu, ao marco que divide o termo desta vila com o da vila de Barcelos”, acaso por estar Vila do Conde impedida devido à peste.
Em 10 de Outubro do mesmo ano, duma procuração diz-se que foi passada em São Bartolomeu por impedimento da peste.




Esta imagem, porventura do séc. XV, deve ter sido a mais antiga venerada na capela de que aqui se trata e pode ter vindo da Igreja Matriz anterior à actual. Ao fundo do peito possuía um relicário.


Termo camarário de 1560 para “que não vão lavar os bacios ao ribeiro das Gamelinhas”. As duas últimas palavras antes das assinaturas dizem “São Bertolameu” (São Bartolomeu). A concluí-lo, lê-se a indicação do ano.



[1] Ainda há uns 60 anos se lavava roupa nesse ribeiro.

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